Vinho novo

Disseram-lhe eles: Os discípulos de João e bem assim os dos fariseus frequentemente jejuam e fazem orações; os teus, entretanto, comem e bebem. Jesus, porém, lhes disse: Podeis fazer jejuar os convidados para o casamento, enquanto está com eles o noivo? Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; naqueles dias, sim, jejuarão. Também lhes disse uma parábola: Ninguém tira um pedaço de veste nova e o põe em veste velha; pois rasgará a nova, e o remendo da nova não se ajustará à velha. E ninguém põe vinho novo em odres velhos, pois o vinho novo romperá os odres; entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão. Pelo contrário, vinho novo deve ser posto em odres novos [e ambos se conservam]. E ninguém, tendo bebido o vinho velho, prefere o novo; porque diz: O velho é excelente – Lc 5.33 a 39

 

INTRODUÇÃO:

Essa mensagem é parte integrante da anteriormente pregada: Odres Velhos.

Nesta mensagem iremos abordar as duas figuras:

  1. Vinho Novo
  2. Odres Novos

O objetivo desta mensagem é identificar o que cada figura representa e como podemos nos tornar odres novos.

 

VINHO NOVO EM ODRES NOVOS

Tendo já identificado os odres velhos como Judaísmo dos dias de Jesus – com suas velhas práticas, sob velhas bases e velha mentalidade – devemos avançara tentar identificar o que vinho novo e odres novos representam nesta parábola de Jesus.

  1. O que representa o vinho novo?
  2. O que representam os odres novos?

 

VINHO NOVO:

  • Você consegue imaginar Jesus Cristo no Congresso Brasileiro?
  • Você consegue imaginar Jesus Cristo no BBB21?
  • Você consegue imaginar Jesus Cristo em algumas igrejas brasileiras?
  • Você consegue imaginar Jesus frequentando a igreja que você frequenta?
  • Você consegue imaginar Jesus Cristo vivendo com você?

 

ILUSTRAÇÕES:

O Inquisidor – Dostoyevski – Irmãos Karamázov:

No conto, o personagem Ivan, ateu e liberal, narra a história do Grande Inquisidor a seu irmão Aliocha, monge e muito religioso. Além desses personagens, temos a figura de Cristo, que aparece como símbolo da liberdade e o Inquisidor, cardeal do Santo Ofício que simboliza a consciência dominadora e a autoridade.

A história se passa na época da Inquisição, na cidade de Sevilha, Espanha, local onde Jesus retorna e opera curas e milagres. Ao perceber o tumulto causado por Cristo, um velho cardeal de noventa anos, o Grande Inquisidor, manda prendê-lo nas casas do Santo Ofício, por heresia. Na prisão, Jesus é acusado e ameaçado pelo Inquisidor. Segundo o Grande Inquisidor, Jesus é acusado por ter proporcionado liberdade aos seres humanos que são vistos como miseráveis e incapazes de lidar com esta responsabilidade:

Tinha sede [Jesus] de um amor livre, querias que o homem te seguisse livremente, seduzido por Ti. Em vez de se apoiar na antiga lei rigorosa, o homem deveria, doravante, com o coração livre, escolher o que era o bem e o mal, tendo apenas a Tua imagem para se guiar. Mas não pensaste que ele acabaria repelindo a Tua imagem e a Tua verdade, esmagado por esse fardo terrível que é a liberdade de escolher?

Para Dostoiévski, o Reino de Cristo está alicerçado na liberdade. Em contrapartida, o reino do Inquisidor se estabelece por meio do pão, do milagre e do poder rejeitados por Cristo no episódio da tentação do deserto (cf. Mt 4. 1-11). Por meio do pão rejeitado por Cristo, o Inquisidor atrairia a multidão faminta; por meio do milagre dos anjos, o Inquisidor alcançaria a multidão desejosa de milagres, e por meio da autoridade e do poder concedida por Satanás, o Inquisidor teria domínio sobre as consciências humanas.

 

Aslam – C. S. Lewis – O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa:

No fim da história do livro “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa”, depois de derrotar a Feiticeira Branca e seus súditos, depois de restabelecer a alegria em Nárnia e trazer libertação a todos, quando todos estavam felizes e esperançosos em um reino de justiça com a presença de Aslam, sem que quase ninguém perceba, Aslam some de novo. Lúcia percebeu. No alto do castelo de Cair Paravel, ela percebe que o grande salvador, Leão imponente não está lá. Mas ela sabia que isso poderia acontecer. O senhor Castor já havia avisado:

Ele há de vir e há de ir-se. Num dia, poderão vê-lo; no outro, não. Não gosta que o prendam… e, naturalmente, há outros países que o preocupam. Mas não faz mal. Ele virá muitas vezes. O importante é não pressioná-lo porque, como sabem, ele é selvagem. Não se trata de um leão domesticado.

Fonte: https://viniverdadeverdadeira.blogspot.com/2020/08/ele-nao-e-um-leao-domesticado.html

 

O VINHO NOVO É JESUS CRISTO E SUA MENSAGEM – O EVANGELHO.

Não devemos e não podemos desvincular a pessoa de Jesus de sua mensagem. O Evangelho, em síntese, é o testemunho dado pelos apóstolos a respeito da identidade – quem Jesus é – e a obra de Jesus Cristo. Jesus e sua mensagem são indissociáveis.

  • Jesus é o vinho novo porque nos trouxe a graça de Deus:

Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo – Jo 1.17

  • Jesus é o vinho novo porque ele é a última palavra de Deus a nós:

Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles – Hb 1.1 a 4

  • Jesus é o primogênito da família de Deus:

Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos – Rm 8.29

 

ODRES NOVOS:

Há entre os comentaristas algumas opções de interpretação:

  1. O Cristianismo – O sistema religioso que ocupou o lugar do Judaísmo para aqueles que aderiram a ele. Todo termo ao qual tem sido acrescido o sufixo “ismo” aponta para uma estrutura organizacional e desprovida de vitalidade. Daí não ser essa a melhor interpretação.
  2. A Religião Cristã – Religião pressupõe a busca do homem por Deus. Jesus é o Deus que veio em busca do homem perdido – Lc 19.10. Jesus veio restaurar o relacionamento quebrado entre homens e Deus. Daí não considerarmos que essa também seja a melhor interpretação.

Resta-nos ainda considerar duas opções:

  1. A Fé Cristã – Uma realidade viva e dinâmica tornada possível pela graça divina que se fundamenta num ato de confiança plena e irrestrita em Deus para a salvação da humanidade perdida.
  2. Pessoas Regeneradas pelo Espírito Santo – Aqueles que, vivificados por Deus, são renovados pelo Espírito Santo e passam a gozar de um relacionamento pessoal com Deus e seu Filho Jesus Cristo.

Somente odres novos podem conter o vinho novo. Jesus e sua mensagem somente poder ser “suportados” por uma fé viva em um coração regenerado.

Tal como o Judaísmo dos dias de Jesus, um sistema rígido, ritualista, legalista e hipócrita, assim também uma vida degenerada também se constitui um odre velho.

Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais – Ef 2.1 a 3

Esse “velho homem” que se corrompe, não pode “conter” o vinho novo de Deus:

Mas não foi assim que aprendestes a Cristo, se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus, no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade – Ef 4.20 a 24

O paganismo e bem assim os pagãos não poderiam “conter” o vinho novo de Deus. Jesus Cristo não caberia no paganismo e muito menos na vida dos praticantes destas religiões.

Paulo afirmou isso em Romanos 1.18 a 32:

A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis. […] E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes, cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem – Rm 1.18 a 32 (editado)

 

REGENERAÇÃO E RENOVAÇÃO CONTÍNUA

Ninguém consegue, por si mesmo, deixar de ser odre velho e tornar-se um odre novo. É necessário nascer de novo, nascer do alto:

Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus. Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo – Jo 3.1 a 7

Comparação entre o nascer da carne e o nascer do Espírito:

  1. No ventre materno fomos gerados – Ninguém gera a si mesmo. Todos nós fomos gerados num ventre. Não participamos do processo, nós viemos a existir em meio ao processo
  2. No ventre materno fomos formados e nutridos – Ninguém se forma e se nutre durante o processo de gestação. Nesse ínterim somos formados e nutridos sem qualquer cooperação nossa.
  3. O nascimento natural no particípio – Todos nós fomos gerados, formados e nutridos e alguém nos deu à luz. Em todo esse processo fomos pacientes e nunca agentes. Gerados, formados, nutridos e dados à luz – tudo no particípio.

Jesus Cristo foi concebido pelo Espírito no ventre de Maria:

Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus – Lc 1.35

Assim também somos regenerados pelo Espírito:

Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita – Rm 8.11

Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna – Tt 3.4 a 7

A origem da nova vida é divina e sua manutenção também é:

Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito – 2Co 3.17 e 18

Uma vez nascido do Espírito somos, pelo mesmo Espírito, santificados em tudo:

O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo – 1Ts 5.23

 

CONCLUSÃO:

Ninguém se torna um odre novo, todos nós somos tornados odres novos para quem possamos “conter” o vinho novo de Deus. A transformação de odres velhos e odres novos é uma ação soberana do Espírito Santo em nós.

O que precisamos fazer? Nada. Tão somente creia:

Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna – Jo 3.16

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