Ser e fazer discípulos de Jesus

Seguiram os onze discípulos para a Galileia, para o monte que Jesus lhes designara. E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram. Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século – Mt 28.16 a 20

 

INTRODUÇÃO:

Dentro de nossa elaboração de missão temos discursado sobre o que significa honrar a Deus, conhecê-lo e torná-lo conhecido em todas as nações – missão legitimamente eclesiástica.

A missão de amar e servir ao próximo e torná-lo discípulo é uma missão individual. Cada pessoa por si mesma deve amar e servir, ser e fazer discípulo. A missão da igreja é tornar isso claro e dar condições para que seus integrantes possam executar bem sua própria missão.

No intuito de esclarecer o que significa amar e servir ao próximo, no sermão anterior procuramos responder à pergunta: Quem é o meu próximo?

Neste sermão queremos esclarecer o que significar ser e fazer discípulo de Jesus Cristo.

Perguntas cruciais:

Você é um discípulo de Jesus?

Essa pergunta é fundamental.

  1. Um discípulo de Jesus sabe que é discípulo de Jesus.
  2. Um discípulo de Jesus, conscientemente aceitou os termos do discipulado.
  3. Um discípulo de Jesus sabe que não há outro a quem ele possa seguir.

Para ser discípulo de Jesus é necessário renunciar a si mesmo.

Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á – Mt 16.24 e 25

Então, convocando a multidão e juntamente os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho salvá-la-á – Mc 8.34 e 35

Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará – Lc 9.23 e 24

O que você renunciou para ser discípulo de Jesus?

  • A suprema renúncia é a renúncia da vida.

O que, para você, significa “tomar dia a dia sua cruz”?

  • A cruz não é um adereço.
  • Quem toma sobre si a cruz assume sua própria condenação.
  • Quem toma a cruz sobre si não tem reivindicação alguma a fazer.
  • Quem toma a cruz sobre si partilha do destino de Cristo.

 

Alguns Fatos:

  1. O fundamento da ordem de Cristo está na sua autoridade:

Jesus recebeu do Pai toda autoridade e com base nele nos envia ao mundo para em seu nome proclamar a salvação e tornar os convertidos em discípulos de Cristo, tal como nós somos.

  1. Somente discípulos de Jesus podem fazer discípulos de Jesus:

A condição sine qua non para o discipulado é ser discípulo para poder discipular.

Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo – 1Co 11.1

  1. Ser discípulo não uma opção a quem deseja fazer discípulo:

Embora muitos possam ver o discipulado como opcional, não é opcional ao discipulador ser ou não ser discípulo.

  1. Fazer discípulo é uma ordem:

Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações… – Mt 28.19a

Uma suposição nada plausível:

Imagine que um sargento tenha dado uma ordem a um soldado. O soldado bate continência e sai da presença do sargento, supostamente para executar a ordem recebida.

Algum tempo depois, o sargento encontra o soldado olhando para o horizonte como se estivesse contemplando o infinito. O sargento aproxima-se do soldado e lhe pergunta?

— O que está fazendo combatente?

O soldado, com lágrimas nos olhos se dirige ao sargento:

— Eu fiquei tão emocionado com as suas palavras que fiquei, desde então, meditando na profundidade dos seus termos. O senhor disse: Vá limpar o banheiro. Aí eu fiz uma análise exegética de cada palavra no nosso idioma e pude perceber a profundidade de cada palavra pronunciada pelo senhor. Estou boquiaberto com tudo o que eu descobri sobre mim, sobre as outras pessoas, sobre o mundo, enfim, eu fiquei super-fã do senhor.

Ao ouvir isso o sargento responde:

— Eu não disse nada sobre meditar em minhas palavras ou ficar super-fã, eu disse e vou repetir mais uma vez em alto e bom som: Vá limpar o banheiro.

  1. A essência do discipulado é seguir a Cristo e ensinar outros a segui-lo como ele quer ser seguido, seguindo-o de perto:

Mais do que um aprendiz, um discípulo é um seguidor, alguém que observa, de perto, em primeira mão tudo o que o mestre diz e faz.

O discipulado, mais do que uma proposta curricular é uma conformação de vida ao modo de vida do mestre.

Como dizia o icônico padre Zezinho:

Amar como Jesus amou

Sonhar como Jesus sonhou

Pensar como Jesus pensou

Viver como Jesus viveu

Sentir o que Jesus sentia

Sorrir como Jesus sorria

  1. A promessa da presença de Cristo “até a consumação do século” é uma decorrência da missão dada por ele a todos nós:

Jesus garantiu a seus discípulos que a missão de fazer discípulos de todas as nações nunca seria uma missão solitária.

Jesus nos acompanha na missão – de Jesus somos cooperadores.

 

Diante desses fatos convém ressaltar:

  • O DISCÍPULO IMITA SEU MESTRE

Fazer discípulo é mais do que ensinar conceitos é demonstrar:

Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. Durante a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que traísse a Jesus, sabendo este que o Pai tudo confiara às suas mãos, e que ele viera de Deus, e voltava para Deus, levantou-se da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido.  […] Depois de lhes ter lavado os pés, tomou as vestes e, voltando à mesa, perguntou-lhes: Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou. Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes – Jo 13.1 a 5 e 12 a 17

Ser discípulo é imitar a Cristo.

Discipular é ensinar outros a imitar a Cristo.

 

  • TESTEMUNHAR E DISCIPULAR – O MÉTODO DE JESUS

Embora haja inúmeras formas, muitas inventadas pela igreja no decorrer dos séculos, Jesus nos deixou duas ações estratégicas. Na segunda reflexão falamos sobre o que significa testemunhar.

O que significa discipular?

O termo grego akoloutheō aparece quase exclusivamente nos Evangelhos: 56 vezes nos Sinóticos e 14 vezes em João; somente 3 vezes em Atos, uma vez em Paulo e 6 vezes no Apocalipse. […] Jesus não esperou por seguidores voluntários. Chamou com autoridade divina aos homens, assim como o próprio Deus chamara os profetas no AT (Mc 1.16 par.; Mt 8.22). Jesus não chamou homens para adquirirem e se assenhorearem de modos tradicionais de conduta. Indicou a eles o raiar futuro do Reino de Deus (Lc 9.59-60). Ser um discípulo de Jesus era uma vocação escatológica para ajudar no serviço do “reino” que estava “próximo” (Mc 1.15). Desta maneira, aqueles que eram chamados ao discipulado participavam da autoridade de Jesus. São enviados para os mesmos homens (cf. Mt 15.24 com 10.5-6), com a mesma mensagem (cf. Mt 4.17 com 10.7), para fazer as mesmas obras poderosas (Mc 3.14-15). Ficarão sentados com Ele no trono de Juiz do mundo (Mt 19.28; Lc 22.30). […] Ser um discípulo significa (conforme Mt enfatiza de forma especial) ser vinculado a Jesus e cumprir a vontade de Deus (Mt 12.46-50; cf Mc 3.31-35). Isto significa que, durante o ministério terrestre de Jesus, o discípulo tinha, bem literalmente, de “seguir” a Jesus, isto é, seguir atrás dEle (akoloutheō) e aceitar a situação de renúncia, de perambular com Ele (Mt 8.20-21; cf G. Bomkamm, Jesus de Nazaré, 146). […] Para entender o discipulado de Jesus, é importante reconhecer que a chamada para ser discípulo sempre inclui a chamada ao serviço. Segundo Mc 1.17 e Lc 5.10, os discípulos devem ser pescadores de homens. Esta é uma frase coloquial, que significa que, tendo em vista a chegada iminente do reino de Deus, os discípulos devem apanhar homens para o reino vindouro, por meio de pregarem o evangelho e trabalharem em nome de Jesus (cf. Mt 16.15 e segs.). Quando Jesus enviou os Doze (Mc 6.7-13) e os Setenta (Lc 10.1-13), eles tinham de sair aos pares, trazendo salvação e paz, e proclamando o Reino de Deus. Isto nos deixa perceber que o próprio Jesus terrestre enviava discípulos para certos tipos de serviços. Este serviço leva o discípulo aos mesmos perigos aos quais foi exposto seu Mestre (cf. Mc 10.32). Jesus andou à frente deles no sofrimento. O discípulo não pode esperar sorte melhor do que a do seu Senhor (Mt 10.24-25; 16.24-25; cf. 10.38). (Cohen & Brown, DITNT, Vol. 1, p. 579-586)

 

  • A FINALIDADE DO DISCIPULADO É FORMAR CRISTO EM NÓS

É bom ser sempre zeloso pelo bem e não apenas quando estou presente convosco, meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós; pudera eu estar presente, agora, convosco e falar-vos em outro tom de voz; porque me vejo perplexo a vosso respeito – Gl 4.18 a 20

Cada cristão um discípulo/discipulador:

Numa comunidade de 200 membros, se cada membro fizer um discípulo e acompanhá-lo por 2 anos, desde sua conversão até o batismo e integração à igreja, em 2 anos teremos 400 membros, em 4 anos 800 membros e em 6 anos 1.600 membros.

CRESCIMENTO EXPONENCIAL: IELV

2022 – 200 membros

2024 – 400 membros

2026 – 800 membros

2028 – 1.600 membros

 

  • NÃO DISCIPULAR É DESVIO DE FINALIDADE

Declaração de Lausanne – 1974:

Afirmamos a nossa crença no único Deus eterno, Criador e Senhor do Mundo, Pai, Filho e Espírito Santo, que governa todas as coisas segundo o propósito da sua vontade. Ele tem chamado do mundo um povo para si, enviando-o novamente ao mundo como seus servos e testemunhas, para estender o seu reino, edificar o corpo de Cristo, e também para a glória do seu nome. Confessamos, envergonhados, que muitas vezes negamos o nosso chamado e falhamos em nossa missão, em razão de nos termos conformado ao mundo ou nos termos isolado demasiadamente. Contudo, regozijamo-nos com o fato de que, mesmo transportado em vasos de barro, o evangelho continua sendo um tesouro precioso. À tarefa de tornar esse tesouro conhecido, no poder do Espírito Santo, desejamos dedicar-nos novamente. (Isaías 40:28; Mateus 28:19; Efésios 1:11; Atos 15:14; João 17:6,18; Efésios 4:12; 1 Coríntios 5:10; Romanos 12:2; 2 Coríntios 4:7)

Uma antiga/atual metáfora:

Numa aldeia havia umas centenas de pessoas pobres que viviam ali na mais abjeta miséria. A agricultura era de subsistência e a terra era pouco produtiva. Porém, havia muitos pés de laranja plantados pelos antigos moradores. As laranjeiras eram produtivas e altas. As laranjas nasciam acima do alcance de um humano de estatura mediana. As laranjas amadureciam e caiam dos pés ao apodrecerem. Ninguém as colhia.

Certo dia passava por aquela aldeia miserável um viajante. Vendo os pés de laranja, cheios de laranjas maduras, dirigiu-se a uma árvore caída e pegou um de seus galhos. Com o galho bateu na laranjeira e colheu algumas laranjas. Alguns aldeões viram-no e ficaram admirados. Pediram a ele que fizesse de novo e o viajante derrubou mais algumas laranjeiras aos aplausos dos aldeões.

O evento foi comentado na aldeia por alguns dias. Todos queriam saber mais detalhes sobre como o viajante conseguiu realizar a proeza de colher algumas laranjas. O líder dos aldeões organizou um evento para que o viajante fizesse uma série de palestras sobre a impressionante arte de colher laranjas utilizando um artefato de madeira.

Muitos aldeões vieram ouvir o viajante, aldeões de aldeias distantes também vieram. Uma pequena contribuição foi exigida dos participantes. Em troca cada um deles recebeu um certificado de “colhedor autorizado de laranjas do vale dos laranjais”.

Novas turmas se formaram e em pouco tempo havia mais de 200 colhedores autorizados de laranja. O curso era teórico e bastava aos interessados assistiram aulas para obterem o tão desejado certificado.

Porém, sempre há um “porém” nas metáforas antigas, alguns ousaram colocar em prática o que aprenderam no curso teórico. Para espanto geral eles também montaram suas próprias escolas de colhedores de laranja. Criaram um currículo bem elaborado, alguns desenvolveram teses originais sobre o assunto. As exigências para ser treinador de colhedores de laranja ficaram cada vez mais elevadas.

Foi baixada uma determinação, aplicável a todas as aldeias determinando que nenhum aldeão, sem diploma reconhecido de colhedor de laranja, pudesse sequer se aproximar de um pé de laranja. Quem ousasse desobedecer seria punido em praça pública para o delírio dos esfaimado aldeões que permaneceram em suas misérias, enquanto os palestrantes e mestres das escolas de colhedores de laranja se enriqueciam com as inscrições e vendas de certificados.

Porém, outro “porém”, um novo viajante aparece naquela mesma aldeia. Diferente do primeiro que usou um galho para derrubar as laranjas, ao invés disso ele engenhosamente construiu uma escada e subindo nela pegou laranjas com as próprias mãos. Isso provocou a ira dos antigos colhedores de laranja do antigo método. Porém, outro “porém, muitos ficaram maravilhados com o novo e eficiente artefato e começaram a reproduzi-lo e vender para qualquer um que oferecesse alguns centavos por isso. Logo havia dois grupos distintos os antigos e tradicionais colhedores de laranja do bom e velho método dos galhos e os novos colhedores no estilo inovador das escadas.

Os dois grupos rivalizavam entre si, cada um dizendo que o outro era ilegítimo. O problema era que pouco conseguiam aplicar eficazmente seus métodos de colher laranjas e as laranjas continuavam a cair podres dos pés de laranjas. Muitos confundiram o objetivo de ter diploma de doutor em colheita de laranjas com a nobre e importantíssima missão de colher laranjas.

E enquanto isso as laranjas continuavam a cair dos laranjais e apodrecidas adubavam a terra…

 

CONCLUSÃO:

Confessamos que às vezes temos nos empenhado em conseguir o crescimento numérico da igreja em detrimento do espiritual, divorciando a evangelização da edificação dos crentes. Também reconhecemos que algumas de nossas missões têm sido muito remissas em treinar e incentivar líderes nacionais a assumirem suas justas responsabilidades. […] Em toda nação e em toda cultura deve haver um eficiente programa de treinamento para pastores e leigos em doutrina, em discipulado, em evangelização, em edificação e em serviço. Este treinamento não deve depender de uma metodologia estereotipada, mas deve se desenvolver a partir de iniciativas locais criativas, de acordo com os padrões bíblicos. (Colossenses 1:27,28; Atos 14:23; Tito 1:5,9; Marcos 10:42-45; Efésios 4:11,12) – Lausanne 1974

 

Comentário (1)

  1. Responder
    Roberto Medeiros says:

    Excelente mensagem, bem pedagógica e cristocentrica

Publicar um comentário