Eu, de mim mesmo

Uma reflexão sobre a vida humana sem a graça de Cristo

Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado
Rm 7.25

 

INTRODUÇÃO:

Paulo disse aos cristãos de Éfeso:

Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na carne … estáveis sem Cristo … não tendo esperança e sem Deus no mundo – Ef 2.11 e 12

 

Tese: Uma vida vivida sem Cristo, sem Deus e sem esperança no mundo é uma vida sem graça.

 

Vejamos:

O Contexto do Texto

  • Contexto Imediato:

Esse é, sem dúvida alguma o texto mais ensimesmado da Bíblia

Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás. Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda sorte de concupiscência; porque, sem lei, está morto o pecado. Outrora, sem a lei, eu vivia; mas, sobrevindo o preceito, reviveu o pecado, e eu morri. E o mandamento que me fora para vida, verifiquei que este mesmo se me tornou para morte. Porque o pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo mesmo mandamento, me enganou e me matou. Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom. Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum! Pelo contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa, causou-me a morte, a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira maligno. Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado.

Em que contexto Paulo escreve seu texto ensimesmado?

  • Contexto Remoto:

O argumento de Paulo começa no capítulo 5.1 e 2:

Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus – Rm 5.1 e 2

No capítulo anterior (Capítulo 4) Paulo usou o exemplo de Abraão para demonstrar que somos justificados pela graça de Deus mediante a fé. De 5.1 a 8.39 Paulo explica o significado de “onde abundou o pecado superabundou a graça” – Rm 5.20.

Justificação, pecado e graça, eis os assuntos principais do contexto do texto.

 

JUSTIFICADOS EM CRISTO

Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos. Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa; mas onde abundou o pecado, superabundou a graça, a fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor – Rm 5.19-21

No capítulo 5 Paulo faz um contraste absoluto entre “estar em Cristo “e estar em Adão”:

  • Estando em Adão – Condenação, culpa e morte. O pecado abunda e reina através da morte – Rm 5.12-14.
  • Estando em Cristo – Justificação e vida. Reina a graça pela justiça para a vida eterna – Rm 5.15 a 21

A grande questão é: Estamos em Cristo?

Se estamos em Cristo não há mais condenação:

Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus – Rm 8.1

Estar em Cristo implica em ter se tornado nova criatura:

E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas – 2Co 5.17

Em Cristo temos sido conhecidos, predestinados, chamados, justificados e glorificados:

Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou – Rm 8.29 e 30

Todos os verbos do texto acima estão no tempo perfeito que indica algo já realizado, já feito e não passível de ser desfeito.

Ilustrando:

Uma mulher, escrava embarcou com sua senhora num navio de bandeira britânica. A escravidão ainda vigorava em território americano. Mas nos domínios do Inglaterra a escravidão estava abolida. O capitão do navio britânico se dirigindo à escrava pronunciou que ela estava liberta. Em nome da coroa britânica ele a declarou uma mulher livre.

Ao ouvir a declaração do capitão, a senhora americana ordenou que a mulher que era sua escrava que descesse do navio imediatamente. A ex-escrava, virando-se para a ex-senhora lhe disse que não.

O capitão, diante da ousadia da ex-escrava a aplaudiu.

Nós nascemos escravos do pecado. Enquanto vivemos nos territórios de seu domínio – em Adão – estamos sujeitos a ele e dele recebemos o devido salário que é a morte – Rm 6.23.

Saindo de Adão e estando em Cristo somos declarados por Deus justificados e livres do poder do pecado e da morte.

Jesus nos libertou:

Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres? Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado. O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres – Jo 8.31-36

 

O PECADO ABUNDOU EM MIM

Mas o pecado não nos quer livres. Ele, o diabo e inferno farão de tudo para que continuemos escravizados ao pecado e à morte.

Um dos maiores equívocos que cometemos quando o assunto é pecado é reputá-lo apenas como atos e atitudes e não como um estado de ser.

Jesus disse que a árvore má produz maus frutos:

Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons – Mt 7.16b-18

O profeta disse:

Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal – Jr 13.23

O que peca, peca por ser pecador. Nós não nos tornamos pecadores ao pecar, pecamos por sermos pecadores.

O pecado é como uma nódoa, ela se estabelece em nós e a menos que seja removida de nós, nos marca para sempre.

O pecado é como uma doença contagiosa. Adão se contaminou e nos contaminou a todos.

Nós nascemos sob o domínio do pecado.

 

UMA MÁ E UMA BOA NOTÍCIA:

A má notícia: Somente a morte nos livra do poder do pecado.

Ora, a mulher casada está ligada pela lei ao marido, enquanto ele vive; mas, se o mesmo morrer, desobrigada ficará da lei conjugal.  De sorte que será considerada adúltera se, vivendo ainda o marido, unir-se com outro homem; porém, se morrer o marido, estará livre da lei e não será adúltera se contrair novas núpcias. Assim, meus irmãos, também vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que frutifiquemos para Deus – Rm 7.2-4

A boa notícia: Nós já morremos para o pecado.

Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos? Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Porque, se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição, sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos; porquanto quem morreu está justificado do pecado. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos, sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem domínio sobre ele – Rm 6.1-9

 

 

A GRAÇA CRISTO SUPERABUNDOU EM MIM

Paulo afirmou que onde abundou o pecado superabundou a graça:

Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos. Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa; mas onde abundou o pecado, superabundou a graça, a fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor – Rm 5.19-21

Isso é um fato. E todo fato possui implicações decorrentes.

Fomos salvos pela graça mediante a fé em Jesus Cristo. O ser salvo não é algo que vem de nós, é um dom de Deus:

Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas – Ef 2.8-10

Isso implica em que não somos salvos por nós mesmos. A nossa salvação não vem de nós. De nós só vem o pecar.

Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado – Rm 7.24 e 25

Tendo sido salvos pela graça devemos permanecer na mesma graça para que sejamos por ela santificados por Deus.

Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito – Gl 5.22 a 25

Não podemos começar pelo Espírito e dar prosseguimento pela carne:

Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne? – Gl 3.3

A carne, enquanto um conceito ético, possui duas conotações:

  1. Carne no sentido de rebelião declarada contra Deus e seus mandamentos
  2. Carne enquanto esforço humano para agradar a Deus

Estamos na carne quando cometemos pecados que desonram a Deus e maculam nosso coração – como pecado de Davi – Sl 51.

Estamos na carne quando tentamos agradar a Deus por meio de artifícios religiosos e não dependemos exclusivamente da graça de Deus em Jesus Cristo:

Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade – Fp 2.12 e 13

A vida cristã é um crescimento em graça e no conhecimento de Cristo:

Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza; antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno – 2Pe 3.17 e 18

 

CONCLUSÃO:

Eu, de mim mesmo é o antônimo da graça de Cristo em mim – 2Co 12.1 a 10

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