De volta ao primeiro amor

Ao anjo da igreja em Éfeso escreva: Estas são as palavras daquele que tem as sete estrelas em sua mão direita e anda entre os sete candelabros de ouro. Conheço as suas obras, o seu trabalho árduo e a sua perseverança. Sei que você não pode tolerar homens maus, que pôs à prova os que dizem ser apóstolos mas não são, e descobriu que eles eram impostores. Você tem perseverado e suportado sofrimentos por causa do meu nome, e não tem desfalecido. Contra você, porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor. Lembre-se de onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio. Se não se arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do seu lugar. Mas há uma coisa a seu favor: você odeia as práticas dos nicolaítas, como eu também as odeio. Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei o direito de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus.

Apocalipse 2:1-7

 

INTRODUÇÃO

Certa vez, em um aconselhamento que fazia com minha esposa, ouvimos o seguinte relato: “No início, antes mesmo de me pedir em namoro, você me trazia chocolates importados com ursinhos de pelúcia, depois começamos a namorar, você me trazia bombons da Kopenhagen. Depois que ficamos noivos, os chocolates mudaram para as caixinhas de bombons sortidos da Nestlé. Após o casamento, você começou a trazer os “Sonhos de Valsa” da Lacta. E agora “Batom”! Onde é que isto vai parar? Com a moedinha da Pan??”

Caímos na gargalhada com o protesto da esposa! Mas em minha mente, e após um breve olhar nos olhos da minha esposa, me vi na mesma situação daquele pobre rapaz! É claro que um relacionamento amadurece e nem tudo será sempre como foi no começo. Eu poderia mencionar muitas coisas que melhoraram ao longo dos anos, mas o fato é que, neste aspecto específico (a expressão de valorização e carinho), eu e o outro marido havíamos decaído com relação ao que eu já havia sido antes! Chocolates populares também são gostosos, mas não são românticos!

Após a saída do casal, recebo uma mensagem de um integrante de um dos ministérios que lidero, informando sobre a impossibilidade de comparecer ao culto que ele já estava escalado, pois havia aparecido um compromisso com alguns amigos. Já era a segunda ou terceira falta naquele mês. Após alguns pensamentos, concluí que as duas situações provêm da mesma causa: O primeiro amor está esfriando.

Se isto acontece ao nível do nosso relacionamento humano, natural, certamente também acontece no plano espiritual! Da mesma forma que perdemos a paixão e a intensidade do nosso amor por permitirmos o nosso envolvimento na rotina de um relacionamento com pessoas que realmente amamos, também acabamos permitindo que o nosso relacionamento com o Senhor sofra desgastes! E o Deus que nos chamou a um relacionamento de amor total não aceita isto!

No livro de Apocalipse, que o apóstolo João recebeu em Patmos, o Senhor lhe confiou algumas mensagens às Igrejas da Ásia. Na Carta endereçada à Igreja de Éfeso, o Senhor Jesus exortou com relação à decadência do amor que essa igreja vinha apresentando. Ele protestou pela perda do que chamou de “primeiro amor”.

 

DESENVOLVIMENTO

Logo no primeiro verso do texto, Jesus se apresenta:

Ao anjo da igreja em Éfeso escreva: Estas são as palavras daquele que tem as sete estrelas em sua mão direita e anda entre os sete candelabros de ouro. Ap 2.1

Porém, para compreendermos esse verso em sua totalidade, temos que voltar para o versículo anterior:

Este é o mistério das sete estrelas que você viu em minha mão direita e dos sete candelabros: as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candelabros são as sete igrejas”. Ap1:20

Jesus enviou cartas para as 7 igrejas da Ásia, sendo Éfeso a primeira e endereçada ao “anjo da igreja em Éfeso”. Uma das interpretações é que os anjos são os pastores, visto que a palavra anjo significa mensageiro, uma designação presente no antigo e novo testamento para aqueles que trazem a Palavra de Deus.  Há também uma segunda interpretação que os anjos eram seres angelicais designados por Deus para proteger e acompanhar a vida daquelas comunidades. Havia um anjo para cuidar da igreja de Éfeso, um outro para cuidar da igreja de Esmirna, outro da Filadélfia e assim por diante. Esse pensamento é possível, pois em I Cor 11, o apostolo Paulo cita que os anjos estavam presentes no culto. Estudando o texto e contexto, acho que já mais evidências na primeira possibilidade. Por qual motivo o Senhor Jesus diria aos anjos celestiais: “Contra você, porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor.”  Os anjos não são passíveis de queda. Os que caíram, caíram. Os que permaneceram fieis a Deus, são perfeitos na vontade do Senhor e não pecam.

Na continuação do versículo, Jesus fala sobre os sete candelabros de ouro, ou seja, sobre as igrejas. E o que enche nosso coração de esperança é o verbo usado antes dos setes candelabros: Ele anda no meio da igreja! É bom saber que Ele está perto de nós, entre nós. Ele tem uma aliança com a igreja. Ele é o noivo que ama sua noiva e quer viver com ela para sempre.

Para resumir esse primeiro verso, podemos parafrasear: Quem estava falando é o Senhor que guarda os pastores e anda no meio da igreja.

Jesus conhecia profundamente a igreja de Éfeso. No início do texto, Jesus começa elogiando a igreja, pois ela havia se tornado um modelo de igreja para ser seguido. E quando nós estudamos a vida da igreja de Éfeso, nós encontramos alguns pontos fortes descritos nos versos 2, 3 e 6:

  1. Uma igreja operante, trabalhadora e que se ocupava na obra de Deus – Não era uma igreja que se reunia apenas aos domingos para cumprir um rito religioso, mas era uma igreja atuante, uma igreja atuante. O próprio Jesus disse: “Eu conheço as suas obras, eu conheço o seu trabalho”. Por isso, quero deixar uma mensagem de encorajamento para você que tem trabalhado na obra de Deus, você que é voluntário em um ou mais ministérios. Jesus conhece as suas obras e o seu trabalho. Seu trabalho não é vão.
  2. Era uma igreja resiliente diante das provações – Uma igreja que desde o seu início havia sido perseguida de várias maneiras, mas a fé não foi abalada. Viram seus líderes serem assassinados por causa da fé, mesmo assim, não desistiram. Eu conheço muitos irmãos na nossa igreja que passam por enormes provações e perseguições, mas que mantém sua fé no Senhor.
  3. Era uma igreja zelosa pela verdade – Não era uma igreja da prosperidade, do show da fé ou dos espetáculos musicais. Jesus reconhece a seriedade da igreja: “Sei que você não pode tolerar homens maus, que pôs à prova os que dizem ser apóstolos mas não são, e descobriu que eles eram impostores.” Verso 2. Era uma igreja do “venha como está”, mas seja transformado pelo Jesus Cristo.
  4. Era uma igreja que odiava conceitos liberais – no verso 6, a Bíblia fala sobre os nicolaítas, agentes propagadores da imoralidade e da idolatria entre os primeiros cristãos. Alguns estudiosos entendem que se tratavam dos discípulos de Nicolau de Antioquia. Nicolau pregava a libertinagem cristã e ignorava o corpo físico como o templo do Espírito, promovendo, assim, a prática da imoralidade sexual entre os cristãos. E quando tudo isso chegou na igreja de Éfeso, eles zelam pela Palavra Deus.

A igreja de Éfeso era admirável. Eram características importantes que determinavam que era uma igreja séria e disposta a fazer a obra de Deus. Que bom seria se todas as igrejas de hoje em dia fossem como a igreja de Éfeso. Porém, depois de levantar e elogiar os pontos fortes, Jesus apresenta algo contra a igreja:

Contra você, porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor. – Apocalipse 2:4

Em outras palavras: “Onde está o amor de vocês? Onde está o brilho dos olhos de vocês? Onde está a sede pela minha presença? Vocês fazem tudo bonito, organizado, mas o principal, não consigo ver. Onde está o primeiro amor”. Este amor faz com que trabalhemos para Deus. O apóstolo Paulo falou que o amor de Cristo (ou o entendimento da profundidade deste amor) nos constrange a não mais vivermos para nós, e sim para Ele:

“Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” (2 Coríntios 5.14,15)

Alguns acham que, se o primeiro amor nos leva ao trabalho, então a perda do primeiro amor poderia ser definida como sendo “uma diminuição da produtividade”. Porém, de acordo com a mensagem de Jesus na Carta à Igreja de Éfeso, a perda do primeiro amor não é apenas uma questão de “relaxarmos” no trabalho de Deus, pois o Senhor lhes disse: “Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança” (Ap 2.2a). A palavra grega traduzida como “labor” é “kopos”, que, de acordo com a Concordância de Strong, significa: “intenso trabalho unido a aborrecimento e fadiga”. Este tipo de labor seguido de perseverança, por parte dos efésios, não nos permite concluirmos que eles tenham demonstrado alguma queda de produtividade no serviço ao Senhor.

“Perder o primeiro amor” também não é “enfrentar uma crise de desânimo” ou “desejar desistir”, uma vez que, nesta mensagem profética, o Senhor Jesus elogia a persistência desses cristãos de Éfeso: “e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer” (Ap 2.3).

A perda do primeiro amor também não pode ser vista como sendo um momento de crise no trabalho ou na dedicação, uma vez que é algo que Deus “tem contra nós”:

“Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.” (Apocalipse 2.4,5)

Portanto, a perda do primeiro amor é uma queda, é chamada de pecado, e necessita arrependimento. Há muitos crentes que continuam se dedicando ao trabalho do Senhor, mas perderam a paixão. Fazem o que fazem por hábito, por rotina, por medo, pelo galardão, por quaisquer outros motivos, os quais, acompanhados daquele primeiro amor intenso, fariam sentido, mas sozinhos não!

No verso, Jesus utiliza o verbo abandonaste. A Concordância de Strong define esta palavra da seguinte maneira: “enviar para outro lugar; mandar ir embora ou partir; de um marido que divorcia sua esposa; enviar, deixar, expelir; deixar ir, abandonar, não interferir; negligenciar; deixar ir, deixar de lado uma dívida; desistir; não guardar mais; partir; deixar alguém a fim de ir para outro lugar; desertar sem razão; partir deixando algo para trás; deixar destituído.” Essas expressões refletem, não uma perda que possa ser denominada como sendo meramente acidental, mas um ato voluntário de abandono, de descaso. O Senhor Jesus não está exortando esta igreja por não O amarem mais! Não se tratava de uma ausência completa de amor, pois ainda havia amor! No entanto, o amor deles havia perdido a sua intensidade e não era mais o amor que Ele esperava encontrar neles!

 

POR QUE PERDEMOS O PRIMEIRO AMOR?

O primeiro amor é como um fogo. Se colocamos lenha, ele fica mais inflamado. Contudo, se jogamos água, ele se apaga! Falhamos por não alimentarmos o fogo e por permitirmos que outras coisas o apaguem!

Muitas coisas contribuem para que o nosso amor pelo Senhor perca a sua intensidade. No entanto, há quatro coisas, especificamente, que eu gostaria de enfatizar aqui. Se quisermos nos prevenir e evitar esta perda, ou se quisermos uma restauração, depois que perdemos este amor, precisaremos entender estes aspectos e a maneira como eles nos afetam:

 

  1. O convívio com o pecado

“E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará.” (Mateus 24.12)

Ao falar do “convívio com o pecado”, ao invés do pecado em si, estou pretendendo estabelecer uma diferença importantíssima. É óbvio que quem vive no pecado está distante de Deus. A ausência do primeiro amor é chamada de “pecado”, mas este pecado não é necessariamente ocasionado por um outro pecado na vida da pessoa que sofreu esta perda. Muitas vezes esta frieza é gerada pelo “convívio com o pecado dos outros”! Creio que, em Mateus 24.12, Jesus está se referindo aos pecados da sociedade em que vivemos. Devido à multiplicação do pecado à nossa volta (e não necessariamente em nossas vidas), passamos a conviver com algumas coisas que, ainda que não as pratiquemos, passamos a tolerar!

Precisamos ter o cuidado de não nos acostumarmos com o pecado à nossa volta. Muitas vezes o enredo dos filmes que nos proporcionam entretenimento faz com que nos acostumemos com alguns valores contrários ao que pregamos. Acabamos aceitando com naturalidade a violência, a imoralidade, e muitos outros valores mundanos. Ainda que não cedendo a esses pecados, se não mantivermos um coração que aborreça o mal, ficaremos acostumados com esses valores errados a ponto de permitirmos que o nosso amor se esfrie.

 

  1. A falta de profundidade

“A que caiu sobre a pedra são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria; estes não têm raiz, crêem apenas por algum tempo e, na hora da provação, se desviam.” (Lucas 8.13)

Na Parábola do Semeador, Jesus falou sobre a semente que caiu em solo pedregoso. O resultado é uma planta que brota depressa, mas não desenvolve a profundidade, porque a sua raiz não consegue penetrar profundamente no solo que não tem muita terra, tornando-se assim superficial. O risco que esta planta corre, pelo fato de que ela se desenvolveu na superfície, é que, saindo o sol (figura do calor das provações), ela pode morrer rapidamente. O segredo de não nos afastarmos do Senhor nem perdermos a alegria inicial é o desenvolvimento da profundidade em nossa vida espiritual. Muitos cristãos vivem somente dos cultos semanais. Não investem tempo num relacionamento diário, não oram, não se enchem da Palavra, não procuram mortificar a sua carne para viverem no Espírito, não se envolvem no trabalho do Pai. São cristãos sem profundidade, que vivem meramente na superfície.

 

  1. A falta de tratamento

O terceiro fator que contribui para o esfriamento do nosso amor pelo Senhor é a falta de tratamento em algumas áreas das nossas vidas. Já vimos na Parábola do Semeador que um dos exemplos de como o potencial de frutificação da Palavra de Deus pode vir a ser abortado na vida de alguém é a falta de raiz, de profundidade. Mas há um outro exemplo que o Senhor Jesus nos deu nesta parábola – da semente que caiu entre espinhos:

“Outra caiu no meio dos espinhos; e estes, ao crescerem com ela, a sufocaram.” (Lucas 8.7)

Os espinhos não pareciam ser tão comprometedores porque eram pequenos. E, justamente por não parecem perigosos, não foram arrancados. Depois, eles cresceram e sufocaram a semente da Palavra, abortando assim o propósito divino de frutificação.

“A que caiu entre espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com os cuidados, riquezas e deleites da vida; os seus frutos não chegam a amadurecer.” (Lucas 8.14)

As áreas que não são tratadas em nossas vidas talvez não pareçam tão nocivas hoje, mas serão justamente as áreas que poderão nos sufocar na fé e no amor ao Senhor posteriormente. A queda espiritual nunca é um ato instantâneo ou imediato. É um processo que envolve repetidas negligências da nossa parte, e são estas mesmas “inocentes” negligências que nos vencerão depois. Por isso, devemos dar mais atenção às áreas que precisam ser trabalhadas em nossas vidas!

 

  1. As distrações

O quarto fator no esfriamento é o que eu chamo de “distrações”. Diferentemente do cristão que está travando uma luta contra o pecado, o cristão que costuma ser enredado pelas distrações é, via de regra, alguém que não tem cedido ao pecado, mas perde o alvo ao distrair-se com coisas que talvez sejam até mesmo lícitas, mas roubam-lhe o foco.

Até mesmo o nosso próprio serviço prestado ao Senhor pode se tornar uma distração! Os irmãos de Éfeso perderam o seu primeiro amor, ainda que não tivessem parado de trabalhar para Deus! Encontramos também uma clara advertência do Senhor Jesus no episódio bíblico de Marta e Maria (Lc 10.38-42). Enquanto Maria estava aos pés de Jesus, Marta se queixava pelo fato de haver ficado sozinha na cozinha, servindo. Não creio que Marta estivesse trabalhando somente para manter a casa em ordem. Penso que ela tinha uma boa motivação: ela queria ser uma boa anfitriã; ela queria receber e servir bem ao Senhor Jesus! No entanto, até mesmo os bons motivos podem se tornar distrações, e por isso Jesus disse o seguinte a Marta:

“Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.” (Lucas 10.41,42)

“Uma só coisa é necessária”! Nada, absolutamente nada é mais importante do que a nossa concentração em buscá-Lo sem distração alguma! Precisamos vigiar com relação a todas as coisas (até mesmo as coisas boas e lícitas que podem ser consideradas como bênçãos em nossas vidas!) que podem nos distrair, tirar o nosso foco de termos o Senhor Jesus em primeiro lugar!

 

CONCLUSÃO

O caminho de volta é o caminho da restauração. Foi o próprio Senhor Jesus que propôs o caminho da restauração na continuação do texto de Apocalipse:

Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.” (Apocalipse 2.5)

Cristo mencionou três passos práticos que devemos dar a fim de voltarmos ao primeiro amor:

1. Lembra-te!
2. Arrepende-te!
3. Volta à prática das primeiras obras!

 

O primeiro passo é um ato de recordação, de lembrança do tempo anterior à perda do primeiro amor. Não há melhor maneira de retomá-lo do que esta: relembrarmos os primeiros momentos da nossa fé, da nossa experiência com Deus! O profeta Jeremias declarou:

“Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.” (Lamentações de Jeremias 3.21)

Algumas lembranças têm o poder de produzirem em nós um caminho de restauração. Muitas vezes não nos damos conta do que temos perdido. Uma boa forma de dimensionarmos as nossas perdas é contrastarmos o que estamos vivendo hoje com o que já experimentamos anteriormente em Deus.

Recordo-me de uma ocasião em que fui visitar os meus pais e entrei no quarto que, quando solteiro. O simples fato de eu entrar naquele ambiente trouxe à minha memória inúmeras lembranças. Revivi em minha mente os momentos de louvores espontâneos, sem preocupação com a hora e momentos de intimidade com Deus que eu havia passado lá. Recordei, emocionado, as horas que, diariamente, eu passava lá, em adoração ao Senhor!

Sem que ninguém me falasse nada, percebi que a minha vida de intimidade com Deus não era como antes. Estas lembranças ocasionaram naquela época uma retomada da minha dedicação à oração e adoração, e, até mesmo hoje, ao recordar aqueles momentos com Deus que eu vivi naquele quarto, sinto-me motivado a resgatar o que eu deixei de lado!

Contudo, a lembrança em si do que eu havia provado lá não produziu mudança alguma. Ela simplesmente trouxe um misto de saudade com tristeza e arrependimento, pelo fato de eu ter deixado de lado algo tão importante!

E esta é exatamente a segunda atitude que Jesus pediu aos irmãos de Éfeso: “Arrepende-te!” Não basta termos saudades de como as coisas eram anteriormente! É preciso que sintamos dor por termos perdido o nosso primeiro amor! Precisamos lamentar, chorar, e clamar pelo perdão de Deus! É imperativo reconhecer que a perda do primeiro amor é mais do que um desânimo, ou qualquer outra crise emocional! É um pecado de falta de amor, de desinteresse para com Deus!

À semelhança dos profetas do Antigo Testamento, Tiago definiu como devemos nos posicionar em arrependimento diante do Senhor. Deve haver choro, lamento e humilhação:

“Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração. Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza. Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará.” (Tiago 4.8-10)

O fato de nos humilharmos perante o Senhor é o caminho para a exaltação (restauração) diante d’Ele. Se reconhecermos que abandonamos o nosso primeiro amor, teremos que separar rapidamente um tempo para orarmos e chorarmos em arrependimento diante do Senhor e para buscarmos uma renovação.

Eu sei que recordar e chorar pelo passado também não é a cura em si, mas é um passo em sua direção! É um estágio de preparação, por assim dizer. Por isso o conselho proposto pelo Senhor na Carta à Igreja de Éfeso ainda tem um terceiro passo prático: “Volta à prática das primeiras obras!” Portanto, não basta apenas revivermos as lembranças e chorarmos! Temos que voltar a fazer o que abandonamos! Essas primeiras obras a que Cristo Se refere não são o primeiro amor em si, mas estão atreladas a ele – são uma forma de expressarmos e alimentarmos o nosso primeiro amor! Elas têm a ver com a forma pela qual O buscávamos e também a maneira como O servíamos. Jesus não protestou porque os efésios não O amavam mais, e sim porque já não O amavam mais como anteriormente! Precisamos mais do que o reconhecimento da nossa perda! Precisamos voltar a agir como no início da nossa caminhada com Cristo!

É tempo de resgatarmos o nosso amor ao Senhor e dar-Lhe nada menos que um amor total! Que possamos sempre nos apossar da graça do Senhor, para vivermos intensamente a nossa obediência ao Maior Mandamento!

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