Culto de celebração dos 34 anos da IELValinhos

UNIDOS E REUNIDOS

SALMO 133

TEXTO:

Como é bom e agradável quando os irmãos convivem em união! É como óleo precioso derramado sobre a cabeça, que desce pela barba, a barba de Arão, até a gola das suas vestes. É como o orvalho do Hermom quando desce sobre os montes de Sião. Ali o Senhor concede a bênção da vida para sempre. (NVI)

VERSÕES:

Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes. É como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião. Ali, ordena o SENHOR a sua bênção e a vida para sempre. (ARA)

QUE MARAVILHA, QUE coisa boa quando os irmãos são amigos e unidos! Essa união é como o óleo perfumado que Moisés derramou sobre a cabeça de Arão, escorreu pela barba e chegou até à bainha da roupa do grande sacerdote. Essa união perfeita é como o orvalho que cai sobre o Monte Hermom e as montanhas de Israel. O Senhor derrama suas bênçãos sobre Jerusalém e dá vida eterna ao seu povo. (BÍBLIA VIVA)

 

CONTEXTO:

Esse salmo faz parte dos Cânticos dos Degraus. Há uma tradição que afirma que os hebreus entoavam cânticos durante a peregrinação que faziam de suas casas até chegarem a Jerusalém para adorar a Deus nas festas anuais da Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos.

Outra tradição afirma que os sacerdotes, durante os dias de celebração da Festa dos Tabernáculos, entoavam cânticos enquanto subiam as escadarias do Templo.

Os cânticos dos Degraus ou das Romagens são os salmos 120 a 134. Talvez as duas tradições sejam verdadeiras, o fato é que eles apontam numa só direção que é o lugar do culto e celebram a alegria da adoração prestada a Deus pelo adorador que o adora em espírito e em verdade.

Stephen Kaung, renomado comentarista bíblico, divide os Cânticos dos Degraus em 3 grupos:

  • 120-124 – Purificação
  • 125-129 – Iluminação
  • 130-134 – União

Segundo ele, a alma humana, em sua caminhada rumo a Deus primeiro se purifica – átrio externo do Tabernáculo – depois é iluminada por Deus a fim de ser finalmente unida ao próprio Deus em plena e eterna comunhão.

O salmo 133 celebra a comunhão. Essa comunhão fraterna é um reflexo da comunhão da alma com Deus. Aqueles que estão unidos ao Pai manifestam essa verdade por meio da comunhão fraternal. Há no salmo 133 uma alusão à singularidade e preciosidade da comunhão fraterna.

Alguns intérpretes situam a produção desse salmo no período logo após o final do reinado de Saul e começo do reinado de Davi. Mauro Meister, Doutor em Línguas Semíticas pela Universidade de Stellenbosch, África do Sul, professor do CPPGAJ conclui:

Portanto, o verso 1 é uma expressão da bênção alcançada na união das doze tribos debaixo do reinado de Davi após o problemático reinado de Saul. As figuras nos versos 2 e 3 são as aplicações diretas desta expressão de louvor.

 

EXPOSIÇÃO:

  1. A COMUNHÃO É ESSENCIALMENTE BOA

Verso 1:

Como é bom – O salmista expressa grande admiração e entusiasmo. O termo hebraico tov (bom) expressa aquilo que é excelente em si mesmo, algo cuja excelência é expressiva e indiscutível. O que é bom não depende de nada além de si mesmo. Nesse sentido só Deus pode ser dito ser bom. Porém, Deus ao finalizar sua obra de criação afirmou que “tudo havia ficado muito bom” – Gn 1.31.

O bom Deus criou todas as coisas de tal forma que a perfeição divina estivesse presente em toda a criação. A Queda provocou rupturas profundas entre o Criador e sua criação. Na Queda o homem separou-se de Deus, de si mesmo (sua alma e corpo passaram a desejar coisas opostas entre si), de seu semelhante e das demais obras das mãos de Deus. Mas por meio de Jesus Cristo a comunhão outrora perdida é plenamente restaurada.

  1. A COMUNHÃO É AGRADÁVEL

… e agradável – Assim como vontade de Deus que é “boa, perfeita e agradável” – Rm 12.2, a comunhão fraterna também é boa e agradável. O termo hebraico nâ‛ı̂ym indica aquilo que é amável, belo, agradável, suave, deleitoso, como uma boa música é agradável aos ouvidos de quem a ouve.

… quando os irmãos convivem em união! – A comunhão decorrente da união dos irmãos é aquilo a que o salmista se referiu como sendo bom e agradável. A bondade e agradabilidade da comunhão fraterna se deve à sua natureza singular e preciosa. A comunhão fraterna é a externalização da comunhão que há entre os comungantes e o próprio Deus que torna possível essa comunhão desfrutada por eles.

Verso 2:

III. A COMUNHÃO É PRECIOSA

É como óleo precioso derramado sobre a cabeça – O salmista, para realçar a singularidade e preciosidade da comunhão fraterna faz uso de uma figura singular e preciosa tirado do sacerdócio araônico. O óleo da unção era único:

“Diga ao povo de Israel: Este azeite é sagrado. Será sempre o óleo da unção, através de toda a história de Israel. É proibido fabricar desse óleo com esta fórmula para qualquer outro uso. Também é proibido derramar desse óleo em qualquer pessoa que não seja sacerdote. Quem desobedecer a uma dessas proibições, será cortado da comunhão com o meu povo. Sim, pois este óleo é santo, e deve ser tratado como santo por todos – Êx 30.31 a 33

A singularidade do óleo e seu uso – o sacerdote, bem como o sumo sacerdote, era ungido uma única vez em sua vida. O óleo não poderia ser usado para outro propósito, daí sua preciosidade. Sem o óleo, e seu uso decorrente, não haveria sacerdócio e sem sacerdócio não haveria sacrifícios e sem sacrifícios não haveria perdão e sem perdão não há comunhão. O óleo é de uma importância vital na unidade entre Israel e Deus e entre as muitas tribos de Israel.

… que desce pela barba, a barba de Arão – A unção do óleo é algo que traz ao ungido uma agradável sensação. O contato do óleo com a cabeça produz um frescor e alívio do cansaço. Arão era o primeiro beneficiado pela unção com o óleo sagrado. Uma vez abençoado, o sacerdote abençoa o povo:

Disse o Senhor a Moisés: “Diga a Arão e aos filhos de Arão que eles devem abençoar os filhos de Israel da seguinte maneira: Que o Senhor os abençoe e proteja; que o rosto do Senhor brilhe de alegria por causa de vocês; que Ele tenha piedade de vocês; lhes conceda o seu favor e a sua paz. Esta é a maneira como Arão e seus filhos pedirão para que eu abençoe os filhos de Israel, e eu mesmo responderei abençoando o povo. ” – Nm 6.22 a 27

Meister conclui:

Lendo a respeito da instituição do sacerdócio em Israel vemos que esta é a forma que Deus escolheu para abençoar o seu povo, para redimi-lo do seu pecado, para aceitá-lo na sua presença. Dentre as doze tribos Deus escolheu uma para exercer este ministério. Uma tribo abençoaria a si mesma e a todas as demais. Porém, o sacerdócio era prejudicado quando havia divisões entre as tribos, e efetivado na sua unidade. Sob o reinado de Davi o sacerdócio cumpria a plenitude de suas funções sobre o povo de Israel.

… até a gola das suas vestes – As vestes de Arão – e dos sumos sacerdotes que o sucederam – eram vestes especiais, únicas e preciosas. O óleo descia da cabeça de Arão para a gola de suas vestes e chegavam às pedras do peitoral. As doze pedras que compunham o peitoral sacerdotal representavam as 12 tribos de Israel que eram ali representadas pelo sumo sacerdote.

Meister observa:

A figura no verso 2 expressa a unidade das doze tribos debaixo do serviço sacerdotal providenciado por Deus para o povo de Israel. Frequentemente encontra-se em comentários uma ênfase na interpretação dos elementos individuais do texto como o óleo, a barba e o adjetivo “bom”, esquecendo-se da figura completa que o verso apresenta e que deveria ser algo imediatamente absorvido e entendido pelo auditório original do texto, o povo israelita: a bênção do sacerdócio para o povo.

 

E conclui:

Na unção, não só o sacerdote era ungido, mas aqueles que ele representava também. O óleo descia da cabeça, sobre a barba e sobre o colar das vestes, onde estavam representadas as doze tribos de Israel. Somente na unidade é que todo o Israel poderia receber o exercício do sacerdócio. A contínua expiação pelo pecado dependia da unidade do povo de Deus.

  1. A COMUNHÃO É ESSENCIAL À VIDA

Verso 3:

É como o orvalho do Hermom quando desce sobre os montes de Sião – Meister esclarece a primeira frase do verso 3:

O verso 3 traz uma nova e interessante figura. Da mesma forma como no verso 2, uma comparação é introduzida pela preposição ki “Como o orvalho do Hermon, que desce sobre os montes de Sião.” Da mesma forma como no verso 2, a comparação não se concentra no “orvalho do Hermon” mas nos resultados do “orvalho do Hemon que desce sobre os montes de Sião”. Assim como foi necessário conhecer um pouco do contexto sacerdotal para se entender a figura de linguagem no verso 2 é necessário um pouco de conhecimento de geografia para se entender a figura do verso 3. O monte Hermon ficava no extremo norte de Israel e era bem conhecido pelos resultados que seu orvalho produzia (e produz até hoje). Porque o monte Hermon é muito alto e seu cume coberto de neve, o seu pesado orvalho “rega” toda a região em volta fazendo da mesma uma área muito fértil e produtiva. O contraste entre Hermon e Sião é extremo: enquanto o primeiro representa vida por sua situação geográfica, Sião é a fronteira do deserto, que é símbolo de morte, de sequidão. A partir de Sião na direção sul só se encontra terra seca, sem vida. Enquanto a região do Hermon é rica em águas, a região do Negueve (ao sul de Sião) depende de cursos temporários de água que vem das montanhas após as chuvas mais ao norte no mais, encontra-se o Mar Morto, que, por seu alto grau de salinidade, não suporta nenhum tipo de vida. […] Creio, porém, que Davi se utiliza do recurso poético que analisamos anteriormente para demonstrar o significado pleno de ambas as figuras de linguagem. O verbo hebraico dry (descer) parte da corrente de palavras na estrutura do texto é fundamental para as figuras. Primeiro, o verbo, que aparece três vezes no texto, está no particípio, expressando uma ideia de continuidade, a continuidade da bênção no sacerdócio sobre Israel. Segundo, o verbo dry (descer) é que faz a ligação das figuras entre os verso 2 e 3. […] Hermon e Sião sendo tão distantes fisicamente (nas proporções da geografia do antigo Oriente Próximo) possuem um elo comum, o rio Jordão. Este corre desde o norte até o sul de Israel morrendo no Mar Morto. O nome Jordão (yardên) provavelmente deriva-se do verbo dry sendo então “o que desce”. Uma das fontes do rio Jordão é exatamente um ribeiro chamado Banias, que nasce na base do monte Hermon. De certa forma, a riqueza de vida do Hermon se faz presente em toda a extensão de Israel até as proximidades de Sião. Aquele “que desce” (como o óleo descendo … que desce … que desce) traz bênção sobre todo Israel. (dry – lê-se drií – nota do expositor)

 

  1. A COMUNHÃO É UMA BÊNÇÃO

Ali o Senhor concede a bênção da vida para sempre – O salmista se refere aos montes de Sião, em especial ao monte do templo. Em Jerusalém ficava o lugar onde a bênção de Deus – a bênção sacerdotal – era proferida pelo sumo sacerdote logo após o cerimonial do Yom Kippur – o Dia da Expiação – Lv 16.

Meister conclui:

O país inteiro é retratado com um rosto sacerdotal: do Hermon a Sião, da cabeça ao corpo. E para voltar à equação dos versos 2 e 3, a terra é ungida com o orvalho assim como Arão é ungido com o óleo da consagração. O país não é somente unido, é também abençoado. O ponto focal da santidade e bênção é Sião, porque lá o Senhor ordenou a

sua bênção para sempre.

O salmista reconhecia a importância de Sião:

  • O Senhor habita em Sião – Sl 9.11
  • Deus é louvado em Sião – Sl 65.1
  • Os que confiam no Senhor são firmes com os montes de Sião – Sl 125.1
  • O Senhor abençoa seu povo desde Sião – Sl 128.5 e 134.3

IMPLICAÇÃO:

Os versos 1 e 3 são de fácil compreensão e não carecem de contextualização cristã. Mas o verso 2 precisa ser lido novamente sob a ótica cristã.

  1. A referência do salmista ao óleo precioso da unção sacerdotal apresenta-o como essencial para que houvesse união do povo de Israel com Deus e entre as diversas tribos que o compunha. Mais precioso que o óleo da unção sacerdotal é o sangue de Cristo que nos redime colocando-nos em aliança com Deus:

Pois vocês sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como prata ou ouro que vocês foram redimidos da sua maneira vazia de viver que lhes foi transmitida por seus antepassados, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito, conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês – 1Pe 1.18 a 20

  1. O sacerdócio araônico era importantíssimo porque por meio dele os sacrifícios eram oferecidos e a ira de Deus era desviada de seu povo. Mais importante que o sacerdócio araônico que precisava realizar diversos sacrifícios o sacerdócio eterno de Cristo nos garante eterna salvação e pleno acesso a Deus:

Quando Cristo veio como sumo sacerdote dos benefícios agora presentes, ele adentrou o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito pelo homem, isto é, não pertencente a esta criação. Não por meio de sangue de bodes e novilhos, mas pelo seu próprio sangue, ele entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, e obteve eterna redenção. Ora, se o sangue de bodes e touros e as cinzas de uma novilha espalhadas sobre os que estão cerimonialmente impuros os santificam de forma que se tornam exteriormente puros, quanto mais, então, o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu de forma imaculada a Deus, purificará a nossa consciência de atos que levam à morte, de modo que sirvamos ao Deus vivo! – Hb 9.11 a 14

  1. A unidade de Israel é ilustrada na pessoa do sacerdote ungido e na presença das pedras do peitoral que representam as doze tribos de Israel. Jesus Cristo é o ungido (Messias) de Deus, ele nos representa perante Deus e nele temos sido unidos a Deus e uns aos outros. Somos um com Cristo e com Deus:

Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um: eu neles e tu em mim. Que eles sejam levados à plena unidade, para que o mundo saiba que tu me enviaste, e os amaste como igualmente me amaste – Jo 17.20 a 23

Por essa razão Paulo afirma:

Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos – Ef 4.4 a 6

APLICAÇÃO:

  1. Para você a comunhão fraternal é mesmo boa e agradável?
  2. O que você tem feito para desfrutar da bondade e agradabilidade da comunhão fraterna?
  3. A unidade é mais evidente quando os irmãos estão unidos, seja quando reunidos num mesmo lugar, seja quando empenhados num mesmo propósito, você tem estado junto aos irmãos em suas atividades e realizações?
  4. Jesus derramou seu precioso sangue para nos tornar família de Deus, irmãos unidos em torno de um mesmo Pai, vivendo os benefícios da comunhão. Você tem valorizado o que Cristo fez por você?
  5. A bênção e a vida a que o salmista se refere é a bênção decorrente da comunhão com Deus e a vida que encontramos na comunhão com Cristo e a comunidade da fé. Você tem experimentado essa bênção em sua vida?

ORAÇÃO:

Ó Deus, dá-me a sensibilidade de perceber quão boa e agradável é a comunhão fraterna. Que eu desfrute desta comunhão, primeiramente com o Senhor e, também com meus irmãos que desfrutam da mesma comunhão que tenho desfrutado. Que eu nunca deixe de receber a vida que procede desta tão sublime dádiva da comunhão fraterna. Amém.

FONTES CONSULTADAS:

Meister, Mauro, Salmo 133 – Interpretando o Texto Numa perspectiva Bíblico Teológica, Artigo publicado pela Revista Teológica FIDES REFORMATA – 2/1 (1997)

Kaung, Stephen, Os Cânticos dos Degraus, Editora dos Clássicos, São Paulo – SP

 

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