Igreja agente e reagente

Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Tudo isto, porém, vos farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou. Se eu não viera, nem lhes houvera falado, pecado não teriam; mas, agora, não têm desculpa do seu pecado. Quem me odeia odeia também a meu Pai. Se eu não tivesse feito entre eles tais obras, quais nenhum outro fez, pecado não teriam; mas, agora, não somente têm eles visto, mas também odiado, tanto a mim como a meu Pai. Isto, porém, é para que se cumpra a palavra escrita na sua lei: Odiaram-me sem motivo. Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim; e vós também testemunhareis, porque estais comigo desde o princípio – Jo 15.18 a 27

 

INTRODUÇÃO:

Dois erros a serem evitados:

  1. Excesso de história
  2. Ausência de história

Há igrejas que se apegam excessivamente à sua história e se esquece de viver hoje com os olhos no futuro.

Há, por outro lado, igrejas que ignoram completamente seu passado e comete os mesmos erros cometidos por igrejas que surgiram antes delas.

O equilíbrio está em conhecer o passado, valorizá-lo como fonte de aprendizado e viver hoje as lições que dele se aprende.

Alguns fatos:

  • A Igreja do Senhor é um corpo vivo.
  • Corpos agem e reagem.
  • A Igreja age e reage a Deus e ao mundo.
  • A Igreja reage ao agir de Deus e age no mundo em seu nome.
  • A Igreja reage ao agir do mundo e dá testemunho de Cristo num ambiente hostil.

Sempre foi assim. Não vai mudar.

A História da Igreja pode ser dividida em quatro períodos:

  1. Igreja Antiga – 30 a 313 AD
  2. Igreja Medieval – 313 a 1517 AD
  3. Igreja Moderna – 1517 a 1914
  4. Igreja Contemporânea – 1914 aos dias de hoje

 

INDO ATÉ AOS CONFINS DA TERRA

Igreja Primitiva e Antiga – 30 AD a 313

Desde os seus primórdios – Pentecostes 30 AD – até o Edito de Milão 313 AD

A Igreja surgiu em Jerusalém, no Pentecostes do ano 30 AD. Ela surgiu com uma missão:

Então, os que estavam reunidos lhe perguntaram: Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra – At 1.6 a 8

Jerusalém deveria ser o início de uma aventura de expansão “até os confins da terra”.

A versão hispânica Reina Valera diz:

Mas recibiréis la virtud del Espíritu Santo que vendrá sobre vosotros; y me sereís testigos en Jerusalem, y en toda Judea, y Samaria, y hasta lo último de la tierra – At 1.8 (RV)

O desafio era chegar aos recantos mais longínquos da terra e alcançar, com a mensagem do evangelho todos os ouvidos humanos.

Mas, havia oposição.

Até o ano 66 AD os judeus foram ferozes opositores da Igreja. Muitos cristãos morreram nas mãos dos judeus radicais. Estevão foi o primeiro dentre muitos.

Depois da Queda de Jerusalém, os judeus não se constituíram uma força de oposição considerável. Mas aí vieram os romanos. Nero puxou a fila de cruéis imperadores que forçaram os cristãos a negar a Cristo ou morrer por ele. Seguiram seu exemplo Trajano, Marco Aurélio, Septmío Severo, Décio, Valeriano e Galério.

Milhares de Cristãos pereceram nas arenas e nas prisões romanas. Paulo, Pedro, Policarpo, Inácio, Cipriano dentre outros foram decapitados, lançados às feras, mortos à espada ou queimados vivos, alguns foram crucificados, mas todos foram fiéis até à morte.

A Igreja agiu e reagiu.

Por quase 300 anos a Igreja padeceu horrores, mas não abriu mão de sua missão. Ela avançou e não retrocedeu.

Desta forma o império foi alcançado pela mensagem do evangelho de Cristo. Milhões foram atraídos a Cristo e à Igreja.

 

 

NÃO SE CONFORMANDO AO MUNDO

Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus – Rm 12.1 e 2

Igreja Antiga – 100 a 476 AD

No ano 313 AD o imperador romano Constantino promulgou um edito que concedeu liberdade religiosa a todos os cidadãos do império romano. Os cristãos puderam respirar aliviados.

Mas, com o passar dos anos pessoas que não haviam se convertido de verdade começaram a ocupar cargos de influência na Igreja. Não demorou muito para que eles trouxessem para o interior da Igreja as imundícias do paganismo.

Rituais estranhos, cultos a santos e mártires, velas, procissões, romarias a túmulos e locais supostamente sagrados passaram a ocupar espaço considerável na liturgia e na vida diária da Igreja.

O que a Igreja fez?

Líderes protestaram contra a paganização da Igreja. Muitos foram hostilizados por não aceitar a invasão pagã e sofreram nas mãos dos “falsos irmãos”. Alguns optaram por asir e foram morar nos lugares ermos, nos desertos e cavernas. Mas, alguns escreveram contra as práticas imorais dos “cristãos não convertidos”.

Quando um corpo estranho entra em contato com o nosso corpo, os anticorpos são ativados imediatamente.

A Igreja não admitiu que o paganismo tomasse conta da Igreja. Ela reforçou seu compromisso com a santidade.

Ela sobreviveu porque se recusou a ser igual ao mundo. Seu testemunho ao mundo seria nulo caso sucumbisse aos padrões mundanos.

 

SENDO UM PROTESTO VIVO NO MUNDO E AO MUNDO

Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé – Rm 1.16 e 17

Igreja Moderna – 1517 a 1914

Corria o ano de 1517 AD. No trono de Pedro estava sentado o poderoso papa Leão X. Homem ambicioso e austero, membro da orgulhosa família italiana Medici.

Na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg o monge alemão Martinho Lutero fixou suas 95 teses. Nelas ele protestava contra a venda de indulgências. Ele acreditava que o papa nada sabia sobre esse comércio da fé.

Mas ele estava enganado. A Igreja em Roma estava apodrecida de dentro para fora. A ganância dos papas não conhecia limites. A superstição e a crendice popular haviam ocupado o lugar da luz das Escrituras.

Lutero e seus companheiros de luta – Zwinglio, Calvino, Menno Simons, dentre outros – não se deram por vencidos e desafiaram o imenso poder de Roma. O preço pago foi alto e muitos sucumbiram nessa batalha árduo pelo evangelho, mas valeu a pena.

Uma Igreja reformada e renovada surgiu no Tratado de Paz de Westfália em 1648. Desde então um segmento da Igreja de Cristo assumiu o compromisso de ser e permanecer reformada e reformando-se sempre.

  • Sola Fide – Somente a fé

A salvação e justificação só podem ser recebidas pela fé. Isso se contrapõe diretamente à compreensão de que alguém poderia ser salvo por mérito próprio, obras ou mesmo pela compra das indulgências comercializadas na época da reforma protestante.

  • Sola Scriptura – Somente a escritura

A única e fundamental regra de fé de todo cristão é a Bíblia. Os reformadores resgataram a importância da Palavra de Deus como alicerce da fé. Inclusive, o acesso às escrituras por todo cristão era algo tão essencial, que o movimento protestante organizou a tradução da Bíblia para os idiomas do povo e também, em muitos locais, foi quem proporcionou programas educacionais que levassem alfabetização a todas as pessoas.

  • Sola Christus – Somente Cristo

Apenas Cristo é o mediador entre Deus e os homens, o único caminho para Deus e Aquele do qual toda a Bíblia testifica. Esse ensinamento se opunha diretamente ao poder que o Papa tinha na época, quando os católicos acreditavam que a Igreja tinha como garantir a salvação ou a condenação do homem.

  • Sola Gratia – Somente a graça

Além de apontar a fé como acesso à graça de Deus, os reformadores destacavam que a manifestação da graça divina era essencial para a salvação. Se não fosse pela graça divina, não seria possível a nenhum homem ser salvo.

  • Soli Deo Gloria – Somente glória a Deus

Contra uma sociedade que colocava o Papa e membros do clero em posição praticamente divina, os reformadores reafirmavam que somente Deus merece toda glória.

Essa igreja respeita a tradição, mas rejeita o tradicionalismo.

 

ANUNCIANDO O EVANGELHO TODO, AO HOMEM TODO E A TODOS OS HOMENS

Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século – Mt 28.19 e 20

Igreja Contemporânea – 1914 aos dias de hoje

Depois de alguns séculos da Reforma Protestante a Igreja precisou lidar com um inimigo inusitado – a Modernidade e sua Cultura Secularizante.

Os valores e crenças cristãs sofreram ataques de todos os lados. A Renascença, o Iluminismo, a Revolução Industrial e as Revoluções Francesa e Russa ameaçaram a existência da Igreja.

Como pregar o evangelho num mundo moderno e secular?

A Igreja se reuniu em Lausanne em 1974. Nesse encontro representantes de igrejas de mais de 150 países se reuniram para discutir os rumos da pregação do evangelho no mundo atual. Um documento foi redigido e ele ter servido de guia para a prática missional da igreja a partir de então.

Os representantes das igrejas propuseram um retorno às Escrituras e a adoção de um lema: “O Evangelho Todo, para o Homem Todo, a todos os Homens”.

É importante, segundo esses represntantes, identificar o cerne do evangelho. Reco­nhecemos como centrais os temas:

  • Deus como Criador,
  • A univer­salidade do pecado,
  • Jesus Cristo como Filho de Deus, Senhor de tudo, e Salvador através de sua morte expiatória e vida ressurreta;
  • A necessidade de conversão,
  • A vinda do Espírito Santo e seu poder de transformação,
  • A comunidade e missão da igreja cristã,
  • A espe­rança na volta de Cristo.

Mesmo sendo estes os elementos básicos do evangelho, é preci­so acrescentar que nenhuma afirmação de cunho teológico é inde­pendente de considerações culturais. Portanto, todas as formula­ções teológicas devem ser julgadas pela própria Bíblia, que fica acima de todas elas. Seu valor deve ser julgado pela sua fidelidade a ela, bem como pela relevância com que aplicam sua mensagem à sua própria cultura.

Em nosso desejo de comunicar o evangelho com eficiência, esta­mos sempre cientes daqueles seus elementos que desagradam às pes­soas. Por exemplo, a cruz tem sido tanto uma ofensa aos arrogan­tes como uma loucura para os sábios. Mas Paulo nem por isso a eli­minou de sua mensagem. Pelo contrário, ele continuou a proclamá-la com fidelidade, correndo o risco de perseguição, confiante que Cristo crucificado é a sabedoria e o poder de Deus. Nós também, embora preocupados em contextualizar nossa mensagem, removen­do dela toda ofensa desnecessária, precisamos resistir à tentação de acomodá-la ao orgulho e preconceito humanos. Ela nos foi dada. Nossa responsabilidade não é retocá-la, mas proclamá-la.

Esse é o evangelho que pregamos e continuaremos a pregar durante todo o tempo que nos resta ainda nesse mundo.

 

CONCLUSÃO:

Somos herdeiros de uma mensagem – o Evangelho de Cristo.

Temos uma missão por cumprir.

Assim como no passado, enfrentamos oposição.

Porém, temos o exemplo de Cristo e o exemplo da Igreja Primitiva, Antiga, Medieval e Moderna.

Temos também as Escrituras e um legado a honrar.

Que Deus nos ajude. Amém

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