A Andragogia de Jesus – Andar em amor

Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave. Mas a impudicícia e toda sorte de impurezas ou cobiça nem sequer se nomeiem entre vós, como convém a santos; nem conversação torpe, nem palavras vãs ou chocarrices, coisas essas inconvenientes; antes, pelo contrário, ações de graças. Sabei, pois, isto: nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras vãs; porque, por essas coisas, vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Portanto, não sejais participantes com eles. Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz (porque o fruto da luz consiste em toda bondade, e justiça, e verdade), provando sempre o que é agradável ao Senhor. E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as. Porque o que eles fazem em oculto, o só referir é vergonha. Mas todas as coisas, quando reprovadas pela luz, se tornam manifestas; porque tudo que se manifesta é luz – Efésios 5.1 a 13

 

INTRODUÇÃO

Paulo dá continuidade à aplicação de sua exposição – 1 a 3.

Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados – Ef 4.1

 

No capítulo 4 dos versos 1 a 16 Paulo nos fala da unidade. O foco dele a partir do verso 1 é a vocação cristã. Segundo John Stott essa vocação é uma vocação à vida em:

  1. Unidade
  2. Santidade
  3. Amor

AS DIFICULDADES DO TEXTO:

  1. Como andar em amor
  2. Como não andar em amor

Paulo falou sobre como andar em amor – de forma sintética – “andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave” – verso 2

Os versos 3 a 13 falam sobre “como não se anda em amor”.

  1. COMO NÃO ANDAR EM AMOR

Andar como andam os gentios:

Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais – Ef 2.1 a 3

 

Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração, os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza – Ef 4.17 a 19

 

Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz – Ef 5.8

 

  1. Impudicícias – do grego porneia – adultério, prostituição, fornicação (Strong, verbete 4202)
  2. Impureza – do grego akatharsia – imundo, impuro, lascivo, corrupto moralmente (Strong, verbete 167)
  3. Cobiça – do grego pleonexia – avareza, fraude, cobiça (Strong verbete 4124)
  4. Conversação torpe – do grego sarpos – podre, em decomposição, mau, corrupto (Strong verbete 4550)
  5. Palavras vãs – do grego morologia – conversa boba, tolices, conversa insensata (Strong verbete 3473)
  6. Chocarrices – do grego eutrapelia – troça, gracejos, grosseria, palavras jocosas (Strong verbete 2160)
  7. Incontinência – 4205 – do grego pornos – adultero, prostituta (o), fornicador, homem que se relaciona sexualmente com prostitutas.
  8. Idolatria – do grego eidolatres adorador de imagens, um servo adorador de ídolos (Strong verbete 1496)

Todos esses vícios são denominados por Paulo como “obras infrutíferas das trevas” – verso 11.

A tônica da vida nos grandes centros do antigo império romano era a “despessoalização”.

Pessoas, que deveriam se tratadas como finalidade, eram meios para se atingir outra finalidade menos digna.

Uma das manifestações mais cruéis do pecado é a prática da despessoalização.

O cliente da prostituta a considera um meio para atingir um fim – o prazer sensual.

A prostituta considera seu cliente um meio para atingir um fim – o dinheiro.

O avarento considera todas as pessoas meios para obter lucro vergonhoso.

Pessoas devem ser amadas

Coisas devem e podem ser usadas

 

  • COMO ANDAR EM AMOR

Como Cristo andou:

  • Perdoando sempre

Para Jesus se relacionar com as pessoas ele precisou primeiro perdoá-las.

Todos os relacionamentos de Jesus eram iniciados com a dádiva do perdão.

Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou – Ef 4.32

Nós amamos porque ele nos amou primeiro – 1Jo 4.19

  • Concedendo liberdade às pessoas para serem quem são

Jesus concedia às pessoas o direito de serem elas mesmo.

Não havia nele uma exigência para que as pessoas primeiro se curassem para vir a ele:

Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei – Mt 11.28

Depois de conhecê-lo as pessoas mudavam como resultado de haver tido um encontro transformador com ele – Lc 19.

  • Jesus permitia o contraditório

Os fariseus e líderes religiosos expunham seus pensamentos contrários a ele sem que ele rogasse ao Pai “mais de doze legiões de anjos” – Mt 26.53

E aconteceu que, ao se completarem os dias em que devia ele ser assunto ao céu, manifestou, no semblante, a intrépida resolução de ir para Jerusalém e enviou mensageiros que o antecedessem. Indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos para lhe preparar pousada. Mas não o receberam, porque o aspecto dele era de quem, decisivamente, ia para Jerusalém. Vendo isto, os discípulos Tiago e João perguntaram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir? Jesus, porém, voltando-se os repreendeu – Lc 9.51 a 55

Disse-lhe João: Mestre, vimos um homem que, em teu nome, expelia demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não seguia conosco. Mas Jesus respondeu: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e, logo a seguir, possa falar mal de mim. Pois quem não é contra nós é por nós. Porquanto, aquele que vos der de beber um copo de água, em meu nome, porque sois de Cristo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão – Mc 9.38 a 41

  • Sendo movido por compaixão

Jesus, ouvindo isto, retirou-se dali num barco, para um lugar deserto, à parte; sabendo-o as multidões, vieram das cidades seguindo-o por terra. Desembarcando, viu Jesus uma grande multidão, compadeceu-se dela e curou os seus enfermos – Mt 14.13 e 14

E, chamando Jesus os seus discípulos, disse: Tenho compaixão desta gente, porque há três dias que permanece comigo e não tem o que comer; e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça pelo caminho – Mt 15.32

Vendo-a, o Senhor se compadeceu dela e lhe disse: Não chores! – Lc 7.14

Jesus, profundamente compadecido, estendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: Quero, fica limpo! – Mc 1.41

E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades. Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor – Mt 9.35 e 36

 

  • ANDAR EM AMOR É… – 1Co 13

O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta – 1Co 13.4 e 7

Seguiremos a exposição do texto de 1 Coríntios 13 de Jonathan Edwards em seu livro A Caridade e Seus Frutos.

  • Andar em amor é ser paciente

A verdadeira essência da longanimidade cristã é a capacidade de suportar as injúrias “sem o espírito de vingança e retaliação, ou mediante atos injuriosos ou palavras amargas”. Diante das injúrias os cristãos verdadeiros devem “manter imperturbável a serenidade e calma de sua mente, não importa que injúria sofram”. No exercício da longanimidade cristã devemos estar sempre dispostos a ceder nossos direitos em nome da paz, “aproveitando a oportunidade, ou quem sabe, o direito de fazê-lo em nossa própria defesa”.

  • Andar em amor é ser benigno

A caridade dispõe o cristão para a prática do bem aos outros. Para tanto, propõe dividir o dever cristão de fazer o bem em: ato, objetos e modo, o que mostra o rigor filosófico na construção de seus argumentos. Como ato, ele entende fazer o bem ao coração (p. 120), abrindo os olhos do incrédulo ou encorajando um irmão a voltar a frequentar a igreja, ou agir em questões externas, como prestar socorro diante de um sofrimento ou necessidade comum da vida. Sua definição de objeto é cumprir o mandamento de amar ao próximo, sem escolher como próximo aquele que aparentemente merece. Mesmo os maus, inimigos e ingratos devem ser alvo da bondade cristã, pois conclui que Deus é bondoso conosco mesmo nós sendo maus, seus inimigos e ingratos. Por “modo”, Edwards quer dizer fazer atos de bondade de forma espontânea, sem interesse próprio e com alegria pelo simples fato de ter a oportunidade. Assim como no exemplo do amor benevolente de Cristo, nosso amor deve ser marcado por boa vontade para com os homens.

  • Andar em amor é não ter ciúmes

Sendo de um princípio oposto ao amor cristão a inveja é por esse último mortificada em nosso coração. Ao invés de nutrir inveja dos que prosperam o cristão verdadeiro se alegrará com a prosperidade alheia. O ensinamento de Jesus e dos apóstolos, bem como o exemplo deles nos indica que a inveja é um vício repugnante e indigno da vocação celestial. É o amor divino que nos leva a perceber a necessidade de nos alegrar com os que se alegram e sermos gratos a Deus pelo nosso progresso sem desmerecer os progressos alheios.

  • Andar em amor é não ser orgulhoso

A disposição humilde nos disporá a mudar nossa visão e melhorar o nosso comportamento diante de Deus e dos homens. Essa disposição nos fará ver a grandeza dos ensinamentos e mandamentos divinos e nos fará desistir de toda e qualquer pretensão orgulhosa que nos afaste daquela consciência de nossa pecaminosidade perante a grandeza da santidade divina. O cristão verdadeiro desistirá de buscar sua própria glória e se disporá a buscar sempre, por todos meios possíveis, a glória de Deus.

  • Andar em amor é não se conduzir de forma inconveniente e não procurar os seus interesses

A caridade não se opõe a todo tipo de amor-próprio, pois defende que o homem deve amar sua felicidade (p. 185). O amor cristão se opõe ao egoísmo que nasce do amor-próprio desordenado, isto é, o amor pela própria felicidade levado ao extremo (p. 187). O cristão deve ter como objeto da felicidade a busca por contemplar a glória de Deus ou render-lhe glória (p. 192). A caridade também dispõe o cristão a se privar daquilo que é seu, e repartir a fim de beneficiar outros (p. 198). O fundamento desse contraste entre caridade e egoísmo deveria ser amar a Deus com tudo o que se tem, uma entrega total sem reservas (p. 202), e obediência em amar o próximo como a si próprio (p. 203), sendo esse amor ampliado pelo amor de Cristo como padrão.

  • Andar em amor é não se exasperar e não se ressentir do mal

A caridade ou amor cristão é diretamente contrária, em si, a toda ira indevida. O amor cristão é contrário à ira que é imprópria em sua natureza e que tende à vingança, implicando assim má vontade, pois a natureza do amor é a boa vontade. Ele tende a prevenir as pessoas de se irarem sem causa justa, e longe estará de dispor alguém à ira por ninharias. O amor é o inverso da ira e não lhe cederá em ocasiões triviais, muito menos ainda onde não há razão para se irar.

  • Andar em amor é não se alegrar com a injustiça, mas regozijar-se com a verdade

É maravilhoso toparmos ocasionalmente, neste mundo duro e desprovido de caridade, com algumas raras pessoas que não pensam o mal. Não há atitude que encerra mais desapego às coisas do mundo do que essa. O amor “não suspeita mal”, não guarda ressentimento, vê o lado luminoso das coisas, interpreta da maneira mais positiva todas as ações. Que agradabilíssimo estado de espírito para se viver! Que estímulo e bênção para a vida experimentar isso, mesmo que fosse por um só dia! Conquista a confiança, uma confiança na qual reside nossa salvação.

  • Andar em amor é tudo sofrer

O espírito genuinamente cristão dispõe o homem a sofrer por amor a Cristo, enquanto cumpre seu dever em relação a ele. Edwards leva muito a sério o chamado para uma identificação entre mestre e discípulo, pois acredita que o hipócrita pode fazer algo em nome da religião, desde que isto não o impeça de alcançar o que almeja. Contudo somente está disposto a sofrer por Cristo quem tem o verdadeiro amor cristão (p. 287). A entrega por completo e sem reservas a Cristo é a única entrega aceitável, e sofrer por Cristo é parte essencial desse compromisso (p. 290s). A evidência de que um cristão tem verdadeiramente este amor em seu coração é sua disposição em receber a Cristo com sua coroa e com sua cruz (p. 293).

  • Andar em amor é tudo crer

O amor é dependente da fé, pois um ser não pode ser verdadeiramente amado, e especialmente amado acima de todos os outros seres, a menos que seja visto como um ser real. E então o amor, por seu turno, alarga e promove a fé, pois somos mais aptos a crer e dar crédito e mais dispostos a confiar naqueles a quem amamos do que naqueles a quem não amamos. Portanto, a fé gera o amor.

  • Andar em amor é tudo esperar e tudo suportar

As duas expressões: “tudo sofre” e “tudo suporta”, como estão na nossa tradução inglesa, e como comumente usadas, são realmente bastante semelhantes no significado. Mas a expressão do original, se literalmente traduzida, seria que “a caridade permanece sob todas as coisas”, isto é, ela ainda permanece, ou ainda permanece constante e perseverante em toda oposição que possa surgir contra ela. Quaisquer que sejam os assaltos feitos contra ela, ainda permanece, e suporta, e não cessa, mas resiste e persiste com constância, perseverança e paciência, apesar de tudo.

 

Que Deus nos ajude

Amém

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